Diversas vezes, já escutamos o ditado popular, principalmente quando se refere a crianças, que a prática da natação consegue ajudar pessoas com asma ou bronquite. De fato, os exercícios físicos, com destaque para a natação, podem auxiliar. Mas até onde alcançam seus benefícios?
Na metade do século passado, o lendário Tetsuo Okamoto ingressou na natação devido a indicação médica porque tinha problemas com asma. Okamoto foi o primeiro medalhista olímpico dos desportes aquáticos do Brasil, conquistando o bronze nos 1500m livre nos Jogos de Helsinque-1952. O americano Mark Spitz, o segundo melhor nadador olímpico de todos os tempos, também iniciou as atividades aquáticas devido a asma. Se analisarmos a fundo, encontraremos diversos ídolos que apresentaram o mesmo problema, entre eles, Fernando Scherer e Flávia Delaroli. Porém, antes de tudo, é preciso tecer considerações sobre a diferença entre bronquite e asma.
A bronquite, que ao pé da letra significa a inflamação das principais passagens de ar para os pulmões, pode ser aguda (curta duração) e ou crônica (dura por muito tempo e tem alta recorrência). A bronquite aguda costuma acompanhar uma infecção viral respiratória. No início, afeta o nariz e a garganta e depois se espalha para os pulmões.
Já a asma é doença inflamatória crônica das vias aéreas respiratórias que causa redução ou obstrução reversível e recorrente no fluxo de ar. Sua causa está relacionada à interação entre fatores genéticos e ambientais, que se manifestam com crises de falta de ar por causa do edema da mucosa dos bronquíolos, da produção excessiva de muco das vias aéreas e da contração da musculatura lisa das vias aéreas (broncoespasmo). O estreitamento dessas vias é geralmente reversível, mas o agravamento da inflamação pode causar danos irreversíveis ao fluxo aéreo.
Outra entidade muito conhecida, principalmente entre nadadores, é o Broncoespasmo Induzido por Exercício (BIE). Consiste na apresentação do broncoespasmo quando é realizada atividade física moderada ou intensa, causando redução de volume respiratório e, portanto, diminuição da capacidade de resistência.
Asma e natação
A prática da atividade física está inserida na rotina diária das crianças e adolescentes na forma de esportes, durante a educação física escolar ou através de atividades recreativas. Isso possibilita o bom desenvolvimento músculo-esquelético e aquisição da habilidade motora, além de incentivar obtenção de estilo de vida saudável e promover inclusão social, melhorando a autoestima e a qualidade de vida.
Embora a maioria dos estudos sobre atividade física e programas de treinamento físico para criança e jovens com asma não demonstre alterações na função pulmonar basal, foi encontrada uma variedade de benefícios físicos, psicológicos e terapêuticos que justifique a preocupação. Exemplo disso: redução da frequência de sibilos, do número de hospitalizações e absenteísmo escolar, diminuição das consultas médicas não agendadas e da necessidade de uso de medicações para controle da asma, perda de peso nos obesos com consequente redução dos sintomas, proteção contra o risco aumentado de osteoporose associado à prolongada terapia com esteroide.
A asma é, em parte, doença reversível e a natação, por suas características próprias, é a atividade mais indicada para contribuir para a reversibilidade. A participação de crianças em programas produz melhora da asma que perdura no tempo. Por sua vez, natação é um exercício saudável que é bem tolerado por asmáticos porque induz à broncoconstrição menos severa do que outras modalidades de atividade física.
Esse efeito protetor da natação provavelmente resulta da alta umidade do ar inspirado no nível da água, o que reduz a perda de água pela respiração e possivelmente diminui a osmolaridade do muco das vias aéreas (espessamento do muco). A posição horizontal do corpo durante a natação também exerce papel importante nisso ao alterar a rota respiratória e, assim, produzir menos resistência das vias aéreas que outros esportes.
Adaptações ao treinamento na água
A aquisição de capacidades motoras aquáticas específicas dependerá da prévia aquisição de determinadas agilidades motoras aquáticas. Dentre essas, deve-se realçar a importância do equilíbrio, da propulsão e da respiração. A maior dificuldade do paciente ou aluno no primeiro contato com o meio aquático relaciona-se à respiração. O mecanismo respiratório inato utilizado no meio terrestre exige adaptações específicas adequadas ao meio aquático, como aumento voluntário das trocas gasosas e, consequentemente, respiração com predominância oral. A respiração assume papel duplo: fisiológico, relacionado à atividade corporal e à necessidade de se efetuar trocas gasosas, e mecânico, em virtude de influenciar diretamente a flutuabilidade do indivíduo.
O trabalho de aperfeiçoamento da respiração pressupõe a criação de automatismo respiratório necessariamente diferente do automatismo inato. Este passará pelo aumento voluntário das trocas gasosas, conseguida pela opção da cavidade bocal em detrimento da nasal para inspirar e expirar. O ato inspiratório deverá ser automático e rápido, sincronizado com as ações propulsoras e equilibradoras dos quatro membros. Já o ato expiratório tem de ser ativo suficiente para vencer a pressão exercida pela água. A duração da expiração deverá ser gradualmente aumentada até tornar possível a expiração completa, que pode tomar formas numerosas e complexas, utilizando sucessivamente ou de forma combinada à boca e/ou nariz.
Riscos para atletas de alto rendimento
Antes de entrar no assunto, gostaria de tecer algumas considerações sobre outro problema médico, que é confundido, que leva à mesma patologia e que é encontrado com certa frequência em nadadores na fase inicial do aprendizado.
O homem foi programado para ter respiração nasal. Quando isso não ocorre, substitui o padrão correto de respiração por padrão suplência bucal ou misto. O nariz é estrutura complexa, com várias funções, seja aquecendo e umedecendo ou mantendo inter-relação com outras estruturas, tais como seios paranasais, canal lacrimal, ouvido médio e amigdalas faríngeas.
Atletas olímpicos têm risco aumentado de asma e alergia, principalmente aqueles que participam de desportos, tais como natação ou corrida, e de inverno. Os mecanismos clássicos subjacentes à Asma Induzida pelo Exercício (AIE) incluem a hipótese osmótica por desidratação das vias aéreas. Devido a hiperventilação, a evaporação da água da superfície das vias aéreas estimula o movimento da água a partir das células vizinhas, resultando em contração celular e liberação de mediadores inflamatórios que causam a contração da musculatura lisa.
Os atletas, comparativamente a indivíduos não atletas, têm maior taxa de Infecções das Vias Aéreas Superiores (IVAS) após estresse do treino, seja por intensidade, duração e frequência, consequente ao tempo insuficiente de recuperação e competições. O aumento da atividade física em indivíduos não atletas associa-se à diminuição do risco de IVAS. O exercício intenso induz à imunodepressão, de origem multifatorial.
Todas as faixas etárias
Devido à importância do sistema ventilatório, para o nadador, em todas as faixas etárias, tenha problema respiratório ou não, é crucial um diagnóstico correto a partir de exames funcionais não invasivos no início da temporada de treinamento, um trabalho de fisioterapia respiratória, como parte do programa na rotina de treinamento fisioterápico no exercício da musculatura respiratória especializada e monitoramento para mesurar as alterações durante a fase de crescimento e desenvolvimento da criança atleta até o desempenho do atleta de alto rendimento e na manutenção da qualidade de vida.